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quinta-feira, agosto 18, 2011

Rodrigo Lopes realiza palestra em Caxias do Sul sobre os bastidores de coberturas em áreas de crise

O jornalista multimídia do Grupo RBS, Rodrigo Lopes, foi o palestrante nesta quarta-feira, 17 de agosto, com o tema “Multimídia e a vida como correspondente em áreas de crise”, para o evento da "Semana da Comunicação" na Universidade de Caxias do Sul (UCS). Ele aproveitou para fazer o pré-lançamento do livro “Guerras e Tormentas”, para os alunos de comunicação da universidade.

Rodrigo Lopes, 33 anos, formado em Jornalismo pela UFRGS ( Universidade Federal do Rio Grande do Sul), trabalha há 15 anos na RBS. Lopes iniciou no grupo como office-boy e auxiliar de redação do jornal Zero Hora. Atualmente ele é repórter da RBS TV, apresentador do Jornal da Meia-Noite da TVCOM, colunista de assuntos internacionais do jornal Zero Hora e é comentarista da Rádio Gaúcha. Na palestra Lopes também salientou o seu lado caseiro, o cuidado com a família e a relação com uma gata que encontrou no estacionamento da RBS TV.

Conforme Rodrigo Lopes, o jornalismo multimídia existe há muito tempo. "Mendes Ribeiro, Lauro Quadros, Ana Amélia Lemos e Paulo Santana já escreviam e falavam no rádio." A diferença hoje é a reportagem e os conteúdos multiplataforma. “A base é o conteúdo, a narrativa (a história, o texto) e sem uma boa história não existe tecnologia que salve".

O jornalista e repórter americano Kevin Sites foi a inspiração de Rodrigo Lopes para ser um profissional multimídia. "Ele me inspirou no trabalho para fazer o que faço hoje, viajar sozinho com uma câmera. Fui o primeiro repórter de rádio do Brasil à falar ao vivo da Líbia!" destaca. Lopes ainda sugere uma obra de Sites sobre a cobertura de guerras: 'Hot Zone: One Man, One Year, Twenty Wars'.



A primeira cobertura multimídia do jornalista Rodrigo Lopes ocorreu em 2003 na Argentina. "Liguei pra rádio Gaúcha e pedi para entrar no ar e fui bem. No dia seguinte pediram para eu fazer um comentário diário na emissora."

Ainda conforme Lopes no mesmo ano em 2003, depois de uma cobertura no Iraque, ele acabou sendo convidado para participar do programa da TVCOM 'Estúdio 36' pelo apresentador Tulio Milman. "Começou tudo que meio artesanalmente, com muito medo por não ser experiente." confessa o jornalista.

O repórter multimídia do Grupo RBS, relembra os bastidores da cobertura em 2005 no Vaticano, da morte do Papa João Paulo II e do sucessor Bento XVI, Joseph Alois Ratzinger. "Fiquei 7 horas na fila para a despedida do João Paulo II, enquanto outros ficaram até 14."

Segundo Lopes, a participação dentro da Basílica de São Pedro, no programa 'Brasil na Madrugada' da rádio Gaúcha foi um momento histórico. "Liguei para a rádio, era uma grande comoção para todos, e eu sem credencial fui falando 'baixinho' no celular para relatar o momento, até que os seguranças pediram para eu desligar o celular. E ainda apareci na CNN quando me despedi." conta.

Ainda no Vaticano, o jornalista brinca que foi o único que não sabia que Joseph Alois Ratzinger, era o novo Papa. "A comunicação estava muito ruim e só conseguia entender que o 'José' era o sucessor, e quem era o 'José'? Tive que pedir para um alemão me informar o nome do novo Papa."

O repórter salienta que é preciso colocar sentimentos na produção das matérias. "Não tem como ficar no templo da subjetividade. Jornalismo não existe sem tesão. A gente é movido a emoções."

De acordo com Lopes, ser multimídia tem muitas vantagens. "Amplifica o trabalho (audiência), é um profissional mais completo, polivalente, faz coberturas especiais e é valorizado no mercado de trabalho."

No ano passado, Rodrigo Lopes realizou ao lado do fotógrafo Jefferson Botega, o projeto 'O Caminho Até O Piratini' que percorreram por 30 dias o estado do Rio Grande do Sul e mostraram os personagens e histórias de diferentes 'escalas sociais' do estado, em todas as plataformas de TV, rádio, internet e celular. "Grandes histórias podem estar do outro lado do mundo, mas também do outro lado da rua. Tem que estar com os sentidos à flor da pele." enfatiza.



Para Lopes, o jornalismo busca o caminho e formato do entretenimento. "O público quer material exclusivo para cada mídia. É usar o melhor de cada plataforma." O público quebrou a barreira e assim foi criado um mundo paralelo com a interação, explica Lopes. "Acabou a arrogância do jornalista, graças ao público. O jornalista é muito arrogante."

O apresentar da TVCOM e comentarista da rádio Gaúcha, avisa que nem todos os profissionais precisam ser multimídia, apesar de ser muito importante. "Para quem quer ser, é preciso gostar de tecnologia, software, edição, fuçar na internet e a percepção do perfil. Nem sempre é fácil." confessa.

Segundo Lopes, a reportagem é um processo e tem que colocar sempre mais emoção. De acordo com ele, o enviado especial é um generalista. "Não tem fontes nos locais (a primeira é o taxista), tem o desafio de estar no epicentro dos fatos (a entrada), tem as dificuldades de logísticas (hotel, carro, comida) e as dificuldades de transmissão (internet, celular)."

O repórter ainda complementa sobre o enviado da necessidade de saber de outros idiomas e costumes. "O inglês já é universal, por isso gostaria de aprender árabe e mandarim que são as línguas do futuro. Conforme Lopes, também é preciso usar a psicologia (ser solidário e ter tomada de decisões por parte do repórter) e por fim, o cuidado com a segurança (gás lacrimogêneo, sequestros, tiroteios). "Quem tem de decidir é o repórter, se ele deve avançar ou não; e não o editar que fica sentando na frente do computador."

Rodrigo Lopes na palestra ainda passou uma dica na cobertura de uma manifestação, quando a polícia lançar gás lacrimogêneo. "Sempre levar um óleo num 'saquinho' e um pano junto e colocar no rosto quando necessitar, mas espero que vocês não precisem disso."

O jornalista destacou do que é necessário para fazer uma cobertura multimídia. "Organização, prioridade das mídias (escolher um veículo para dar mais atenção no momento), aproveitamento das fontes e das informaçõs, e ainda privilegiar o conteúdo (às vezes em detrimento das formas)".

Para Lopes, o profissional tem que ser cada vez mais sincero com o público e aconselha que para realizar as matérias, tem a necessidade de uma pitada de jornalismo literário e um olhar de novidade. "Tem que ter o olhar do ET, aquele que surpreende o repórter, surpreende o leitor."

O colunista de assuntos internacionais do jornal Zero Hora volta a mencionar que o jornalismo é o tempo da subjetividade e não da objetividade. "Credibilidade, qualidade, sim, mas com emoção. O processo já é uma reportagem." diz.

Durante a palestra, o autor do livro “Guerras e Tormentas”, ainda comenta dos bastidores do Furacão Katrina que ocorreu nos Estados Unidos, com as dificuldades de logísticas, à Guerra no Líbano, e a importância de enviar material todos os dias, o estabelecimento de uma rotina na guerra que ocorre no dia posterior. "O medo é o anjo da guarda dos jornalistas!" afirma o jornalista Rodrigo Lopes.

Por fim, Rodrigo Lopes contou ainda sobre a cobertura da crise em Honduras no ano de 2009, "Brasileiro é 'persona non grata', por causa do asilo que o país deu ao ex-presidente Zelaya." E também ele falou sobre a catástrofe no Haiti em 2010 e a dificuldade da logística que era complicada, além de uma relação conturbada de jornalistas de outros países na embaixada. "Tinha que dormir agarrado na mochila para não ser roubado".

A palestra do jornalista multimídia do Grupo RBS Rodrigo Lopes foi o auge da "Semana da Comunicação" da UCS, com um auditório lotado, os bastidores de coberturas internacionais, renderam muitas histórias, emoções e sorrisos do público e do palestrante, que aproveitou para fazer o pré-lançamento da obra “Guerras e Tormentas”.

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