Foto: Acervo Folha Imagem
Por que o técnico João Saldanha foi demitido do comando da seleção brasileira a pedido do presidente da República três meses antes da Copa do Mundo de 1970?
Quem eram os cartolas, dirigentes de clubes e jogadores brasileiros que se tornaram informantes do serviço de controle da ditadura militar (1964-1985)?
Como torcedores de times rivais dividiram as arquibancadas do estádio para protestar durante os jogos contra os governos dos generais no Chile e no Uruguai?
Essas são algumas das perguntas que atravessaram décadas e serão respondidas pela série de reportagens "Memórias do Chumbo --Futebol nos Tempos do Condor", que vai ao ar entre hoje e sexta-feira, às 20h, na ESPN Brasil.
Dividido em quatro capítulos --Argentina, Chile, Uruguai, Brasil --, o programa é resultado de quase um ano de pesquisa em arquivos oficiais e inúmeras entrevistas feitas pelo jornalista e historiador Lúcio de Castro, 44.
"Sempre ouvi que o futebol foi usado pela ditadura militar. Era um chavão que me incomodava. Eu queria saber como foi isso, e resolvi colocar a mão na massa", diz.
MAIOR VIGIADO
Saldanha é o principal personagem do capítulo brasileiro. Documentos revelam que o jornalista e comunista apelidado de "João Sem-Medo" por falar o que pensa foi vigiado pela ditadura mesmo anos após cair da seleção.
"Minha saída da seleção nada tem a ver com Pelé. Eu disse ao presidente da República [Emílio Médici] que ele se metesse com o time dele na política, que eu cuidava do meu no futebol. Aí, ele me derrubou. Como eu não pude derrubá-lo, perdi."
Essa é uma das frases ditas por Saldanha em uma palestra na PUC-Rio, em setembro de 1978, que foi acompanhada e relatada em um informe confidencial da Polícia Militar do Rio de Janeiro.
Saldanha caiu em março de 1970, após uma campanha com 100% de aproveitamento nas eliminatórias da Copa. Foi substituído por Zagallo, técnico do tricampeonato.
Enquanto o ex-treinador batia de frente com a ditadura, cartolas e jogadores contribuíam com os generais.
"Descobrimos muitos deles que foram informantes do regime. Vamos citar quem são e mostrar documentos", promete Castro.
PROTESTO FC
Já os capítulos sobre os vizinhos sul-americanos enfatizam como o futebol foi usado como instrumento de resistência às ditaduras.
"No Uruguai, o time do Defensor era o símbolo da resistência à ditadura. Quando foi campeão em 1976, começou a volta olímpica pela esquerda. Os torcedores do Peñarol e do Nacional iam aos jogos do rival para protestar", relata o jornalista e historiador. Fonte
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