O vereador Mauricio Marcon comunicou nesta quinta-feira, 19, que está saindo do Novo de cabeça erguida e ciente de que jamais quebrou qualquer valor e princípio do partido
Em nota, ele desabafou sobre os motivos de não recorrer contra a expulsão do partido. Marcon também relatou sobre as mudanças do Novo e que se sentiu iludido.
O parlamentar reiterou a mudança de postura do João Amoedo desde que concorreu à presidência da república em 2018. "Adotou a infantil postura de crítico de plantão nas redes sociais", contou Marcon.
Por fim, o vereador Mauricio Marcon, informa que segue sem partido, "com os mesmos ideais que me trouxeram até aqui, sem abrir mão de um milímetro da minha coerência. Foi assim ontem, será assim hoje e posso garantir que será assim sempre".
Confira a nota na íntegra:
SAIO DO NOVO DE CABEÇA ERGUIDA
Era uma vez um partido que se dizia novo, se chamava de NOVO, pregava novidades, mas que, infelizmente, ficou velho rapidamente.
Sem dúvidas, me iludi com a novidade quando me filiei lá no início de 2017 e por todos esses anos nos quais acreditei e me doei ao projeto que prometia mudar o Brasil. Mas o tempo é implacável com todos e as aparências se desfizeram de algum tempo para cá.
As instituições que não estiverem estatutariamente preparadas para lidar com os vícios humanos, principalmente aqueles ligados ao apego pelo poder, não perduram, e o NOVO não foi construído e nem gerido para ser um partido democrático e político; logo vimos que nasceu para atender aos interesses de um grupo e relegou a um segundo plano tudo o que pregava. Ignorou os filiados, perseguiu os críticos, criou uma burocracia apolítica que, sem qualquer delegação popular, pretendia comandar os votos e as opiniões de seus filiados eleitos; inclusive para relegar promessas feitas em campanha e para atender aos interesses de um filiado “especial”.
Somente o cumprimento das leis e das regras impedem que as democracias e suas instituições desmoronem. Todos sabemos disso. Mas logo descobrimos o quanto o NOVO já havia nascido velho, pois construído com regras obsoletas que permitem a perpetuação de um grupo (ou de uma pessoa) no poder. Nada disso era aparente; isso não foi percebido, mas o estatuto do NOVO é feito para impedir alternância de poder, limitar o debate e calar os críticos, mantendo nos postos decisórios pessoas que não gostam de política e que não sabem ouvir opiniões contrárias. É o oposto do liberalismo e lembra os estados totalitários e suas constituições que eternizam ideologias dominantes.
Isso começou com a mudança radical de comportamento de João Amoêdo após as eleições de 2018. Adotou a infantil postura de crítico de plantão nas redes sociais. Passou a apoiar excessos institucionais como o “Inquérito das Fake News”, aparentemente só por ser contra aqueles aos quais ele torce o nariz. Menosprezou os mandatários do partido publicamente por diversas vezes, inclusive menosprezando a candidatura do próprio NOVO à Presidência da Câmara. Mudou o seu posicionamento quanto ao voto impresso somente por ser uma pauta defendida pelo Presidente. E ainda rotulou aqueles que não concordavam 100% com ele, principalmente dentro do próprio NOVO, de “bolsonaristas”.
Essa mudança de Amoêdo, porém, atingiu também o partido, que cada vez mais pareceu ter um dono - algo que sempre lutamos contra. A comunicação e o posicionamento independentes, um valor sempre defendido com unhas e dentes pelo NOVO, deu lugar a uma postura opositiva e agressiva - cada vez mais imposta de cima para baixo aos mandatários. As postagens, antes com foco propositivo, passaram a ter como foco uma campanha incessante de críticas ao Presidente e seu governo (várias delas acertadas, vale notar). Porém, a gota d’água ainda estava por vir.
Por eu ter criticado asperamente o modo pelo qual foi feito o processo seletivo que, antes mesmo de seu término, já anunciava João Amoêdo como candidato à Presidência pelo partido, a Comissão de Ética Partidária (CEP), chefiada por um ex sócio do Amoedo, na semana passada, decidiu por me expulsar do NOVO.
Recorrer à decisão ao Diretório Nacional? Para quê? Apesar de lá termos pessoas corretas, como o Guilherme Enck (que foi Presidente do Diretório Estadual/RS), temos também várias outras pessoas umbilicalmente ligadas a Amoêdo: ex-funcionários, ex-sócio e pessoas publicamente ligadas a seus interesses, escolhidos a dedo por ele.
Lutar para mudar o partido? Tentamos, por diversas vezes, com reuniões, apontamentos, sugestões, mas nada muda se quem manda não quer que mude.
Portanto, comunico que não recorrerei da decisão e aceitarei a injusta e estapafúrdia decisão que me expulsou do partido.
Deixo aqui uma imagem que reflete bem o quanto acreditei neste partido como ferramenta para mudar o Brasil: meu bonequinho de casamento, feito no fim de 2018, decorado com as cores e o logo do NOVO, tamanha a confiança e o amor que eu tinha por esse projeto.
Lamento muito que se tenha perdido o rumo. Lamento que gestões temerárias como a do atual Diretório Estadual/RS, que pediu covardemente a minha expulsão, e do Diretório Nacional, permeado de pessoas suspeitas e que permite que outras igualmente suspeitas estejam na CEP, tenham levado o partido que outrora chegou a ter 50 mil filiados ativos, hoje mingue com cerca de somente 12 mil.
Esse desmanche é um claro reflexo do que ocorreu: perdermos nossa coerência e vimos nossos valores e princípios sucumbirem perante as vontades daquele que sempre defendemos não ser o “dono do partido”, João Amoêdo: um dos fundadores do partido e sua principal figura, mas também o grande “afundador” dele.
Saio de cabeça erguida, ciente de que jamais quebrei qualquer valor e princípio do partido; de que respeitei desde cada mínimo centavo que passou pelo gabinete até às duras pautas que muitas vezes lutamos sozinhos, eu e o Scalco, na Câmara, para que nossos ideais jamais fossem corrompidos.
Toda despedida é triste, dolorosa, cheia de recebimentos, mas espero que um dia eu possa retornar. Espero que logo pessoas com a índole que levou o Diretório Estadual/RS e a CEP a fazer o que fizeram estejam fora do NOVO. Espero que essa expulsão tenha entrado para a história do partido como uma página que jamais deveria ter sido escrita.
Sigo, agora sem partido, com os mesmos ideais que me trouxeram até aqui, sem abrir mão de um milímetro da minha coerência. Foi assim ontem, será assim hoje e posso garantir que será assim sempre.
Fotos: Arquivo Pessoal
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