Um colono cultural que não tem vergonha de suas origens
A vida de Arcangelo Zorzi Neto, o Maneco, pode ser “saboreada” nas diversas páginas de livros da cultura caxiense, cultura que se entrelaça com o envolvimento de uma pessoa simples, alegre e realizada com a vida. Livreiro há 40 anos, Maneco se orgulha de ser colono e não nega as suas origens.
Natural de Nova Pádua, também ator e radialista, nasceu no ano de 1956, morou e traba-lhou na colônia até os 13 anos, quando veio para Caxias fazer a sua vida. O primeiro emprego, aos 14 anos de idade, foi na Livraria Sulina. “A paixão pelos livros sem dúvida continua até hoje.”
Filho de José Zorzi e Anna Simionato, o livreiro teve sete irmãos e sete irmãs. O apelido Maneco surgiu quando nasceu, pois o pai sempre colocava apelidos em todos os filhos.
A cultura está ligada à vida de Arcangelo desde os tempos da infância. Os irmãos traziam livros nas férias do seminário para ele ler. “Nós podíamos ampliar mais horizontes vendo livros diferentes e ilustrados”, relembra.
Maneco conta que não esquece que o rádio chegou muito tarde à colônia, mas foi nesse período que começou a gostar de música e futebol. “Lembro quando a São Francisco AM foi inaugurada e da programação musical, ela entrava no ar das 5 da tarde às 8 da noite.” No futebol, a sua maior referência foi há rádio Guaíba AM. “A emissora tinha um dos maiores piques do esporte brasileiro com o narrador Pedro Carneiro Pereira”.
O livreiro conseguiu vencer as dificuldades e a discriminação na infância por ser colono e pobre. “Eu falava pouco português, sofria bastante, tinha uma muda de roupa. Eu não tinha que ser diferente daquilo que eu era. Por que temos de ter vergonha daquilo que nós somos?” Apaixonado pela cultura, ele construiu a Livraria do Maneco, em uma parceria com o amigo Luiz Carlos Webber, em 1980.
A faculdade foi decisiva para a criação do grupo de teatro Miseri Coloni, nos anos 80. Líder estudantil, ele normalmente lidava com os presidentes do DCE, José Ivo Sartori, João Bortolluz e Pedro Parenti. “Eu sempre conversava com Parenti em dialeto italiano e um dia na livraria ele me perguntou. Por que não fundamos um grupo de teatro em dialeto vêneto?” A proposta entusiasmou Maneco e logo começaram a formar o grupo, que permanece há 30 anos.
O programa italiano Cancioníssima, da rádio São Francisco, que mistura ‘alegria, descontração, prazer, músicas e piadas’ fez parte de um projeto cultural quando foi fundado o Miseri Coloni. O convite da criação do Cancioníssima foi feito na gráfica São Miguel. Segundo Maneco, ele estava falando em italiano com Bálico (gerente da gráfica), quando surgiu a ideia. “Maneco, porque você não faz um programa em italiano no rádio?” “Eu? Mas tu tá louco?” retrucou o livreiro.
Maneco não quis tomar a responsabilidade da criação do programa sozinho e levou a ideia para os integrantes do grupo que aceitaram. “Como nós somos do teatro, a gente tinha que improvisar e iniciamos o programa no improviso mesmo. A única coisa planejada foram as músicas.” O Cancioníssima inicialmente tinha 30 minutos, e hoje com duas horas de duração é transmitido sempre aos domingos, das 10h ao meio-dia. “No dia 4 de dezembro de 2009, completou 25 anos ininterruptamente no ar”.
O radialista e ator de teatro teve a primeira experiência nos cinemas ao participar de O Quatrilho (1994), e interpretar Sichopa. “Nós estávamos produzindo e apresentando no palco uma peça teatral e o Fábio Barreto (diretor) assistiu ao espetáculo e convidou grande parte do elenco para participar. Tem certas cenas no filme que são exatamente como eram apresentadas no palco.” conta.
O filme Oriundi (1999), com Anthony Quinn e Nossa Senhora de Caravaggio (2007), de Fábio Barreto, foram outras obras cinematográficas de que ele participou. “Recentemente estive no documentário do nosso município, da nossa cidade e da nossa gente, que foi maravilhoso; Caxias do Sul: Tradição e Inovação de um Povo.
Maneco foi homenageado, no ano retrasado, na 25ª Feira do Livro de Caxias. “Nunca fui patrono de feira nenhuma e tive uma satisfação muito grande. Eu estava passando por um processo bastante difícil de saúde.”
A nova geração utiliza muito a multimídia, que pode substituir as páginas de livros para o digital. “Em breve vamos ter livros digitais (e-books) nas escolas e essas novas gerações serão totalmente digitais”, mas para Maneco, o livro impresso jamais vai morrer. “Ler no papel impresso é muito mais prazeroso, pois pode se lambuzar com as palavras, além de ter a emoção e a sensação do autor.”
Arcangelo Zorzi Neto é uma simplicidade única, ensina o ser humano a não ter vergonha de suas próprias origens. E, por que ter?
Fotos: Arquivo pessoal e Fábio Azambuja
OBSERVAÇÃO: A entrevista foi realizada no segundo semestre de 2010, para a disciplina Redação Jornalística III, do curso de Jornalismo da UCS, que será publicada no impresso TEXTANDO da universidade.
Confira em drops a entrevista com Arcangelo Zorzi Neto, o Maneco.
APRESENTAÇÃO E A CULTURA - Parte 1 (02/02/2011)
A INFÂNCIA E O APELIDO - Parte 2 (03/02/2011)
A PROFISSÃO E A LIVRARIA DO MANECO - Parte 3 (04/02/2011)
A MÚSICA - Parte 4 (05/02/2011)
O PROGRAMA CANCIONÍSSIMA - Parte 5 (06/02/2011)
CINEMA, HOMENAGEM E O PROBLEMA DE SAÚDE - Parte 6 (07/02/2011)
A PAIXÃO PELO FUTEBOL - Parte 7 (08/02/2011)
ENCERRAMENTO E O PAPO DE GRINGO - Parte 8 (09/02/2011)
Historietas do Maneco
Confira mais documentos do Ivan Sgarabotto
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