Essa casa não é minha
Nem tanto por jogar em casa, mas por contar com um bom time, a França ergueu sua 1ª Copa
Resumo da Copa
Campeão: França Vice: BRASIL 3º lugar: Croácia 4º lugar: Holanda
Os artilheiros
Davor Suker (CRO) 6 gols
Gabriel Batistuta (ARG) 5 gols
Christian Vieri (ITA) 5 gols
Os melhores da Copa pela FIFA
Ronaldo (BRA)
Davor Suker (CRO)
Lilian Thuram (FRA)
O melhor goleiro:
Fabien Barthez (FRA)
Sedes
Saint-Denis, Marselha, Bourdeaux, Lens, Lyons, Montpellier, Nantes, Paris, Saint-Etienne, Toulouse
Países participantes (32)
Alemanha, Argentina, Áustria, Bélgica, BRASIL, Bulgária, Camarões, Chile, Colômbia, Croácia, Dinamarca, Inglaterra, França, Irã, Itália, Jamaica, Japão, Coréia do Sul, México, Marrocos, Holanda, Nigéria, Noruega, Paraguai, Romênia, Arábia Saudita, Escócia, África do Sul, Espanha, Tunísia, Estados Unidos e Ioguslávia
Público total: 2.785.100 Jogos: 64 Gols: 171 Média de gols: 2,67
A Copa
Em toda Copa do Mundo uma equipe joga em casa, claro. Mas algumas vezes o anfitrião joga mais em casa do que em outras. Uma coisa é simplesmente uma seleção estar geograficamente localizada dentro do seu pais de origem e, por isso, contar em geral com o estádio repleto de torcedores a seu favor. Isso é jogar em casa. O que aconteceu com a França em 1998 foi outra coisa.
Há uma série de possíveis explicações: a França é um país tão apaixonado por futebol quanto por organizar grandes eventos em que possa exibir o que tem de bom para o do resto mundo; fazia 60 anos que o país não recebia a Copa; as mudanças geopolíticas que miscigenavam a população do país encontraram na seleção um ponto de convergência singular. Por causa disso tudo, o que acontecia é que a seleção francesa saía ganhando por 1 x 0 todo jogo que disputava. A equipe abraçada em campo, cantando junto com um público empostado a militaresca, mas bela Marselhesa é a imagem do que significou para a França receber aquele Mundial. Era como se todo mundo de repente visse uma razão concreta e presente – e não dos livros de história – para dizer que “Le jour de gloire est arrivé”. O dia da glória chegou, finalmente, 12 de junho de 1998. Era difícil pensar naquela Copa e não imaginar a França saindo campeã do mundo pela primeira vez em sua história.
Não que tudo tenha sido fácil ou que Les Bleus tenham sempre sobrado em campo como sobraram na final contra o Brasil. Depois de uma primeira fase boa, com vitórias fáceis sobre África do Sul e Arábia Saudita e um 2 x 1 sobre a Dinamarca, a França suou frio nas oitavas e quartas-de-final: primeiro, só conseguiu superar o Paraguai de Chilavert e Gamarra com um gol de ouro – o primeiro da história das Copas – do capitão Laurent Blanc e, contra os italianos, após um 0 x 0, venceu nos pênaltis, a terceira eliminação consecutiva dessa forma para os italianos.
Marselhesa comovente à parte, é interessante lembrar um detalhe que tende a passar despercebido: a França tinha um grande time. Pelo menos uma grande defesa – com Thuram, Blanc, Desailly e Lizarazu – e um fantástico meio-de-campo – Deschamps, Karembeu, Petit e Zidane – que compensavam seu ataque duvidoso. Aquela Copa, diferentemente da anterior, ficou marcada sobretudo por lances bonitos e gente boa de bola; não só Zidane, mas Ronaldo (que ganhou a Bola de Ouro que só mereceria quatro anos depois); Davor Suker, símbolo de uma Croácia ofensiva que alcançou o terceiro lugar; Dennis Bergkamp, autor de um gol maravilhoso para eliminar a Argentina.
Por mais que por aqui às vezes se custe admitir, foi um lindíssimo Mundial, no qual as seleções que precisaram enfrentar a França certamente se sentiram fora de casa. Mas que bela casa.
Curiosidades
- Coração de mãe
Aquela foi a primeira Copa do Mundo disputada no formato que vigora até hoje, com 32 equipes – o que significou mais vagas para os países da CONCACAF, da África e da Ásia. A boa notícia é que ninguém nunca mais precisou pronunciar aquela aberração chamada “melhores terceiros colocados”. Ou fica entre os dois primeiros, ou cai fora.
- Tolerância zero
A paciência com os técnicos não era algo que andasse em voga naqueles tempos. Nada menos do que três equipes demitiram seus técnicos após sofrerem duas derrotas nas primeiras partidas da fase de grupos: a Arábia Saudita trocou Carlos Alberto Parreira por Mohamed Al Kharashy; a Coreia do Sul mandou Cha Bum Kun para casa e o substituiu por Kim Pyung Seok e a Tunísia trocou o polonês Henryk Kasperczak por Ali Selmi. Só para acabar com o argumento de quem achou aquilo um absurdo, as três equipes e despediram da competição, de técnico novo, com um empatezinho.
- Nepotismo
A Noruega, que impôs ao Brasil sua primeira derrota no torneio (2 x 1, no último jogo da primeira fase), levou uma família numerosa para a França: é que o veterano meia Jostein Flo foi acompanhado de seu irmão – o bom centroavante grandão Tore Andre Flo – e mais um primo, Havard Flo. A Holanda tinha os clássicos irmãos Frank e Ronaldo De Boer, assim como a Dinamarca vinha de Brian e Michael Laudrup. Já os italianos tinham Cesare Maldini como técnico de seu filho Paolo.
- Pela ordem
Daniel Passarella foi notícia antes da Copa na Argentina não tanto por aquilo que fez a equipe jogar, mas por seus métodos reacionários de (tentar) impor disciplina ao grupo: proibiu, entre outras coisas, brincos e cabelos compridos (justo na Argentina!). Aos poucos passou a ceder, mas no caminho criou uma série de inimizades – as mais sérias delas o atacante Claudio Caniggia e o craque Fernando Redondo (coincidentemente ou não, dois cabeludos), que acabaram ficando de fora do grupo. Já novamente cabeludo, Gabriel Batistuta foi – e, aliás, se tornou o primeiro a marcar hat tricks em duas Copas distintas.
- Sobre meninos e bobos
Os argentinos estiveram envolvidos em uma das grandes partidas daquele Mundial, nas oitavas-de-final, contra a Inglaterra. Foi naquele empate de 2 x 2 que Michael Owen, então com 18 anos, apareceu para o mundo com um golaço e que David Beckham conquistou a ira dos ingleses quando sucumbiu às provocações (que nunca eram poucas) de Diego Simeone e acabou expulso. A Argentina avançou às quartas ao vencer nos pênaltis por 4 x 3, graças a duas defesas do goleiro Carlos Roa.
- Jogo é jogo
Entre os participantes havia três novatos: África do Sul, Jamaica e Japão. O sorteio dos grupos ainda reservou um confronto que prometia tensão político-diplomática: Estados Unidos x Irã. Os iranianos ganharam por 2 x 1, com gol no finalzinho, mas a partida ficou marcada pelo clima de paz e amor e troca de ramos de flor no início.
- Cabeça amarela
Depois de derrotar a Inglaterra e assegurar vaga nas oitavas-de-final, a equipe da Romênia resolveu celebrar em conjunto: todos os jogadores – e até o técnico Anghel Iordanescu – tingiram o cabelo de amarelo bem vivo. O único que não participou da brincadeira foi o goleiro Bogdan Stelea, por um motivo compreensível: era careca.
- Corte de custos
Na Seleção, como sempre, houve polêmica por conta de ausência de alguém. Não um alguém qualquer, mas justamente Romário: o Baixinho não se conformou quando ficou de fora na data limite para inscrição de jogadores, porque era capaz de jurar que se recuperaria de sua lesão a tempo de ajudar o Brasil. Acusou Zagallo e o assistente técnico, Zico, de o boicotarem. Foi então que, de volta ao Brasil, quando inaugurou uma boate no Rio de Janeiro, estampou a porta dos banheiros com caricaturas dos dois em posições, digamos, reservadas. A vingança custou um longo processo, que acabou numa punição de mais de R$ 600 mil ao atacante.
E o Brasil?
Foi crise nervosa? Quer dizer, ele amarelou? Ou foi infiltração de analgésico que foi parar na corrente sanguínea? Pior: estava tudo vendido e arranjado? Ronaldo deveria ter sido barrado? Por que foi barrado por Zagallo e depois liberado outra vez? A Seleção passou mais de um mês na França e, nesse tempo, chegou à sua segunda final de Copa consecutiva, mas no Brasil, para sempre, França 98 vai se resumir unicamente ao período de 20 horas que culminou com o apito final dos 3 a 0 dos franceses.
Porque a última impressão é a que fica, pelo menos quando se fala de uma Copa do Mundo e, sobretudo, de uma que a Seleção perde com uma das maiores derrotas de sua história. Num país que notadamente não sabe perder, onde toda e qualquer eliminação em Copa é considerada de ”fracasso” e “vexame” para baixo, o fato de uma partida daquelas ter sido antecedida por fatos tão improváveis e mal gerenciados se tornou um gigantesco telhado de vidro para que o vice-campeonato – normalmente louvável, pelo menos na visão das outras 30 equipes que ficaram pelo caminho – fosse visto por muita gente como um dos maiores acintes da história da seleção brasileira.
E, então, aos olhos do público geral, nem parece que Ronaldo jogou muita bola naquele Mundial. Como também não parece que o Brasil fez algumas partidas bastante boas, da goleada sobre o Chile nas oitavas-de-final à sensacional semifinal contra a Holanda, vencida nos pênaltis. Não parece, também, que a França tinha um time ótimo, além de anabolizado pelo fato de jogar em casa. Para todos os efeitos, foi a Copa que o Brasil ou amarelou, ou entregou – cada um escolhe a vergonha que lhe convier.
A Campanha do Brasil
Primeira fase
10/06/1998 BRASIL 2 X 1 Escócia (BRA: Cesar Sampaio 4"/1°, Tom Boyd 28"/2°(contra); ESC: John Collins 38"/1°) - Saint-Denis
16/06/1998 BRASIL 3 X 0 Marrocos (BRA: Ronaldo 9"/1°, Rivaldo 47"/1°, Bebeto 5"/2°) - Nantes
23/06/1998 BRASIL 1 X 2 Noruega (BRA: Bebeto 33"/2°; NOR: Tore Andre Flo 38"/2° e Kjetil Rekdal 43"/2°) - Marselha
Oitavas-de-final
27/06/1998 BRASIL 4 X 1 Chile (BRA: Cesar Sampaio 11" e 27"/1°, Ronaldo 46"/1° e 25"/2°; CHI: Marcelo Salas 23"/2°) - Paris
Quartas-de-final
03/07/1998 BRASIL 3 X 2 Dinamarca (BRA: Bebeto 11"/1°, Rivaldo 27"/1° e 15"/2°; DIN: Martin Jorgensen 2"/1°,
Brian Laudrup 5"/2°) - Nantes
Semifinal
07/07/1998 BRASIL (4) 1 X 1 (2) Holanda (BRA: Ronaldo 1"/2°; HOL: Patrick Kluivert 42"/2°) - Marselha
A Final
12/07/1998 BRASIL 0 X 3 França (FRA: Zinedine Zidane 27" e 46"/1°, Emmanuel Petit 45"/2°) - Saint-Denis
BRASIL
Taffarel, Cafu (C), Aldair, Junior Baiano, Cesar Sampaio (Edmundo), Roberto Carlos, Dunga, Rivaldo, Leonardo (Denilson), Bebeto e Ronaldo. Técnico: Mario Jorge Lobo Zagallo
França
Barthez, Thuram, Leboeuf, Desailly e Lizarazu; Deschamps, Karembeu (Boghossian), Petit e Zidane; Djorkaeff (Vieira) e Guivarch (Dugarry). Técnico: Aimé Jacquet
Fonte: IG
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