Se a palavra “drama” ainda não tivesse sido inventada, certamente ela estrearia no vocabulário universal a partir do Ca-Ju deste domingo. Nem mesmo a felicidade que ocupará um dos corações terá força para suplantar a dor que acometerá o perdedor. Em caso de empate – tenho informação privilegiada – será decretado luto oficial de três dias em Caxias.
Não sou especialista em Ca-Jus. Já me agoniei com Fla-Flus; vi meu time ser campeão com gol espírita nos descontos; já saí humilhado do estádio... Mas em dramaticidade, arrisco a dizer que o clássico deste 29 de agosto de 2010, antes de acontecer, já entrou para os anais do futebol mundial como um episódio sem precedentes pra cá do trópico de câncer, desde que Charles Miller inventou isso de 22 homens correrem atrás de uma mesma bola.
Tivessem encomendado a Nelson Rodrigues o capítulo de futebol que se anuncia para o Centenário neste domingo, e ele não escreveria com a mesma maestria nefasta que a história por si só agora desenhou. Nefasta porque NÃO PRECISAVA! Caxias e Juventude não mereciam esta partida em que Caim matará Abel ou vice-versa, ou, o pior, os dois sucumbirão.
De um lado, grenás que já não podem mais frustrar a expectativa de um torcedor que vem tocando a vida, já há anos, com várias “pontes de safena”. O “agora vai” virou “agora é obrigado a ir”, pois outro revés será carga demais para um mesmo coração.
Na outra ponta, papos que por 13 anos frequentaram as melhores festas, saíram com mulheres mais lindas, encararam de igual para igual qualquer figurão que cruzasse seu caminho. De tão à vontade que esteve na primeira divisão, os torcedores do Ju se acostumaram a beber tão apenas a sagrada e límpida água da elite do futebol brasileiro. Mas agora, pasmem, agora o Periquito está cotado para inaugurar um limbo que sequer o diabo conhece: a quarta divisão. Porque se a Série A é o paraíso, a B é o purgatório, a C o inferno, a D é algo ainda inclassificável, que até há pouco ninguém tinha notícias.
É mister ressaltar aos cardíacos e/ou propensos à depressão que não compareçam ao Centenário. Será um jogo de valentes, exclusivamente de jogadores e torcedores que não vieram ao mundo por acaso. Se você se considera um desses, o seu lugar é no estádio.
Se não triunfar, o Caxias complica deveras sua missão. Ao Juventude, derrota ou empate carimbam o temido passaporte. E se der empate, Caxias do Sul viverá um luto que durará a eternidade de um ano inteiro, até a próxima oportunidade de fazer tão somente o que se espera de dois clubes com tamanha história e paixão: vencer!
Texto do escritor flamenguista e atualmente residente em Caxias do Sul, Dudu Oltramari
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