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quarta-feira, junho 02, 2010

História das Copas: 1986 no México

Copa com sobrenome
O desempenho monstruoso de um Maradona no auge foi um dos maiores de um jogador numa Copa



Resumo da Copa
Campeão:
Argentina Vice: Alemanha Oc. 3º lugar: França 4º lugar:Bélgica
Os artilheiros
Gary Lineker (ING) 6 gols
Butragueño (ESP) 5 gols
Careca (BRA) 5 gols
Maradona (ARG) 5 gols
Belanov (URSS) 4 gols
O melhor da Copa pela FIFA
Diego Armando Maradona (ARG)
Sedes
Cidade do México, Guadalajara, Monterrey, Puebla, León, Queretaro, Irapuato, Neza e Toluca
Países participantes (24)
Alemanha Ocidental, Argélia, Argentina, Bélgica, BRASIL, Bulgária, Canadá, Coreia do Sul, Dinamarca, Escócia, Espanha, França, Hungria, Inglaterra, Iraque, Irlanda do Norte, Itália, Marrocos, México, Paraguai, Polônia, Portugal, União Soviética e Uruguai
Público total: 2.393.331 Jogos: 52 Gols: 132 Média de gols: 2,54

A Copa
A discussão sobre quem é o melhor jogador de futebol do mundo, Pelé ou Maradona, deve boa parte de sua existência a quanto o argentino foi emblemático – talvez mais do que Pelé. E, por “emblemático”, entenda-se aqui a capacidade de gerar interesse. A verdadeira discussão é essa, mais do que sobre quem foi mais capaz ou efetivo.

Diego Armando Maradona, para além de sua canastrice quando diante das câmeras, tem a seu favor um roteiro muito mais movimentado do que a enfadonha década e meia de golaços de Pelé. A imagem do argentino se tornou um símbolo internacional de transtorno bipolar; de altos e baixos. E sua performance na Copa do Mundo de 86, o exemplo mais claro, indiscutível e sensacional desses altos.

Num mundo do futebol em que tudo o que acontece numa Copa tem peso triplicado, Maradona deve grande parte da imagem que tem hoje àquele mês de junho que passou no México; àquele que provavelmente – salvo argumentação muito sólida de Garrincha em 62 ou Romário 94 – é o melhor desempenho de um jogador num Mundial até hoje.

A Argentina que conquistou seu segundo título mundial era um time bom que, catalisado pelo desempenho monstruoso de um Maradona aos 26 anos, no auge da forma, se tornava excelente. Tudo de bom que acontecia com a seleção argentina passava pelo camisa 10 – isso quando não passava apenas por ele.

O maior desempenho de um jogador numa Copa, sobretudo ao se tratar de alguém como Diego Maradona, precisava de um dia igualmente emblemático, que condensasse tudo de uma só vez. Foi assim naquele que, também provavelmente, é o jogo mais emblemático da história das Copas. Nas quartas-de-final, os argentinos tinham à sua frente a Inglaterra que lhes havia humilhado na Guerra das Malvinas três anos antes. Vencer era questão de honra à pátria, e vencer com um gol roubado – com a Mano de Dios que abriu o placar – e com outro que (de novo o superlativo) foi definitivamente o mais lindo gol da história dos Mundiais parecia roteirizado até demais.

No mesmo palco que consagrou a carreira internacional de Pelé, o estádio Azteca da Cidade do México, Maradona venceu uma Copa que teve mais nome próprio do que qualquer outra. Justo ou injusto já nem importavam: a Copa do Mundo de 1986 não seria a Copa do Mundo de 1986 sem Diego Armando Maradona. Não havia outro final para encerrar a história, portanto, que não fossem suas mãos levantando a taça.

Curiosidades
- Prêmio de desconsolação

Pela segunda vez o Brasil tinha um timaço, mas caiu antes das semifinais. E, também tal como acontecera em 82, a equipe saiu da Copa premiada com o Troféu Fair Play – oferecido pela FIFA à equipe mais disciplinada do torneio. Que é mais ou menos como acertar na quadra da Mega-Sena acumulada e levar R$ 400.

- Plano B
O México se tornou o primeiro país da história a receber duas Copas do Mundo, mas apenas por causa da desistência da Colômbia, que em 1983 admitiu que não teria condições de organizar o torneio. A FIFA por pouco ainda não precisou ativar algum plano C, já que o México passou por um terremoto gigantesco em setembro de 1985, quando mais de 20 mil pessoas morreram.

- Coração valente
Houve comoção na seleção escocesa durante a disputa das Eliminatórias. Numa partida decisiva contra Pais de Gales, o coração do técnico Jock Stein não resistiu: ainda sentado no banco de reservas, o treinador de 62 anos sofreu um ataque cardíaco apos o empate em 1 x 1 que garantiu vaga da Escócia na repescagem contra a Austrália. Stein morreu no centro médico do estádio Ninian Park, em Cardiff. Seu substituto, que treinou a seleção escocesa na repescagem e na Copa de 86, foi Alex Ferguson – que, ao contrário do que fazem crer certos boatos, já era vivo antes de assumir o comando do Manchester United.

- Bons de apito
Foi a segunda Copa consecutiva em que a Seleção Brasileira não chegou sequer à semifinal, mas que mandamos um representante à finalíssima: como Arnaldo Cézar Coelho em 1982, Romualdo Arppi Filho foi o escolhido para apitar a decisão entre Argentina e Alemanha Ocidental.

- Perdidos na noite
O período que antecedeu a Copa do Mundo foi tenso para Telê Santana no aspecto disciplinar: primeiro, Renato Gaúcho foi cortado por ter abandonado a concentração sem permissão. Pouco depois, o lateral-direito Leandro – amigo e, dizem, companheiro inseparável de noitadas de Renato – decidiu pedir dispensa em solidariedade ao colega. Resultado: Edson acabou herdando a vaga na lateral-direita e o discreto Josimar, do Botafogo, chamado para ser seu reserva. Pois Josimar acabou virando titular na segunda partida do torneio e marcou dois golaços de fora da área: contra a Irlanda do Norte e contra a Polônia.

- For Export
Além de Telê Santana, mais dois treinadores brasileiros estavam a cargo de seleções que disputavam aquela Copa: José Faria treinou o Marrocos, enquanto Evaristo de Macedo – que era técnico da Seleção Brasileira até pouco antes da Eliminatória – assumiu o Iraque depois da queda de outro brasileiro, Jorge Vieira.

- Pane geral
Uma equipe que aparentemente seria um case de sucesso daquele Mundial era a Dinamarca, que, apesar de ser uma das fundadoras da FIFA em 1904, se classificava para sua primeira Copa. A equipe era marcada por um estilo de jogo ofensivo, calcado no talento de Michael Laudrup, e um comportamento igualmente aberto: o atacante Preben Elkjaer Larsen, por exemplo, fumava mais de um maço de cigarros por dia. Era uma Democracia Corintiana em versão nórdica. Os dinamarqueses foram a sensação da primeira fase, quando bateram a Escócia por 1 x 0, massacraram o Uruguai por 6 x 1 e ainda passaram pela Alemanha por 2 x 0. Criou-se, então, um dos melhores apelidos da história do futebol: a “Dinamáquina”. Mas só o que acabou entrando para a história foi mesmo o apelido, porque já nas oitavas-de-final a máquina pifou: levou um 5 x 1 da Espanha para não deixar dúvida.

- Amor à camisa
Em Portugal, aquele Mundial ficou famoso pelo chamado “Caso Saltillo” – referencia à cidade onde a equipe estava concentrada. É que havia rumores de indisciplina, discórdias entre os jogadores e a federação sobre os prêmios a serem pagos e sobre o fato de os atletas fazerem propagandas para patrocinadores da Federação Portuguesa de Futebol sem receber nada. Diante disso, entre a primeira partida – vitória de 1 x 0 sobre a Inglaterra - e a segunda – derrota por 1 x 0 para a Polônia -, os jogadores decretaram greve e não apareceram para treinar antes da partida decisiva contra o Marrocos. Em cacos, Portugal perdeu por 3 x 1 e foi eliminado. Durante dois anos, o país jogou essencialmente com sua segunda equipe, já que todos os envolvidos na greve permaneceram afastados da seleção.

E o Brasil?
A Seleção Brasileira da Copa de 86 era quase uma versão light da que havia ido à Espanha em 82: Telê Santana ainda era o técnico, craques como Zico e Sócrates ainda estavam lá (mesmo que já não tão no auge da forma) e o time praticava um futebol quase tão bonito quanto o de quatro anos. Era, portanto, quase tão favorito quanto. E a decepção de ser eliminado foi quase tão grande quanto.

Voltar ao México, local da última conquista, era sinal de bons augúrios para o Brasil. Ainda mais porque, como em 1970, a Seleção passou a primeira fase em Guadalajara – que acabaria sendo a única cidade onde o time jogaria. Depois de uma primeira fase vencedora, mas não exatamente brilhante – vitórias magras sobre Espanha e Argélia e uma que significava pouca coisa contra a Irlanda do Norte – a equipe enfim vestiu sua etiqueta de favorita nas oitavas-de-final, quando aplicou sobre a Polônia um chocolate digno do time de 1982.

A equipe se acertava, Careca marcava gols às pencas e, melhor ainda, a defesa não sofria gols. O goleiro Carlos ainda não havia deixado nada passar: seriam, no total, 400 minutos de invencibilidade. Apenas uma bola entrou no gol do Brasil naquele Mundial: a conclusão de Platini dentro da pequena área, sozinho, depois de um cruzamento esquisito vindo da direita.

A França - que além do camisa 10 tinha Giresse, Tigana, Rocheteau, Amoros e o goleiro Bats – era um timaço para se respeitar naquele jogo de quartas-de-final. Mas, depois de ter aberto o placar e perdido dezenas de chances, principalmente o pênalti desperdiçado por Zico no final do segundo tempo, o sabor deixado pela derrota nos pênaltis foi de decepção e fracasso. Uma das gerações mais talentosas do futebol brasileiro, tal como um de seus técnicos mais aclamados, confirmou ali que passaria com o currículo em branco na Copa do Mundo.

A Campanha do Brasil
Primeira fase

01/06/1986 BRASIL 1 X 0 Espanha (BRA: Sócrates 17"/2º) - Guadalajara
06/06/1986 BRASIL 1 X 0 Argélia (BRA: Careca 21"/2º) - Guadalajara
12/06/1986 BRASIL 3 X 0 Irlanda do Norte (BRA: Careca 15"/1º e 42"/2º
Josimar 42"/1º) - Guadalajara

Oitavas-de-final
16/06/1986 BRASIL 4 X 0 Polônia (BRA: Sócrates 30"/1º, Josimar 10"/2º, Edinho 34"/2º e Careca 38"/2º) - Guadalajara

Quartas-de-final
21/06/1986 BRASIL (3) 1 X 1 (4) França (BRA: Careca 17"/1º; FRA: Platini 40"/1º) - Guadalajara

A Final
29/06/1986 Argentina 3 X 2 Alemanha Ocidental (ARG: Brown 23"/1º, Valdano 10"/2º e Burruchaga 38"/2º; ALE: Rummenigge 29"/2º e Völler 35"/2º) - Azteca

Argentina
Pumpido, Cuciuffo, Brown, Ruggeri, Olarticoechea, Giusti, Batista, Enrique, Maradona, Valdano e Burruchaga (Trobbiani). Técnico: Carlos Bilardo
Alemanha Ocidental
Schumacher, Berthold, Jakobs, Forster, Briegel, Brehme, Matthaeus, Magath (Hoeness), Eder, Rummenigge e Allofs (Völler). Técnico: Franz Beckenbauer

Fonte: IG

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