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terça-feira, junho 01, 2010

Histórias das Copas: 1982 na Espanha

E’ vero
Parece mentira, mas a fascinante seleção brasileira de Telê Santana sucumbiu à Itália de Paolo Rossi



Resumo da Copa
Campeão:
Itália Vice: Alemanha Oc. 3º lugar: Polônia 4º lugar: França Os artilheiros
Paolo Rossi (ITA) 6 gols
Rummenigge (FRG) 5 gols
Zico (BRA) 4 gols
Boniek (POL) 4 gols
Laszlo Kiss (HUN) 3 gols
Os melhores da Copa pela FIFA
Paolo Rossi (ITA)
Falcão (BRA)
Karl-Heinz Rummenigge (FRG)
Sedes
Barcelona, Madri, Sevilha, Alicante, Bilbao, La Coruña, Elche, Gijón, Málaga, Oviedo, Valladolid, Valência, Vigo e Zaragoza
Países participantes (24)
Alemanha Ocidental, Argélia, Argentina, Áustria, Bélgica, BRASIL, Camarões, Chile, El Salvador, Escócia, Espanha, França, Honduras, Hungria, Inglaterra, Irlanda do Norte, Itália, Iugoslávia, Kuwait, Nova Zelândia, Peru, Polônia, Tchecoslováquia e União Soviética
Público total: 1.856.277 Jogos: 52 Gols: 146 Média de gols: 2,80

A Copa
No futebol como em qualquer outra área da vida, os clichês são limitantes e tendem a servir apenas como uma saída fácil para explicar qualquer coisa. Só uma razão os salva de serem completamente desprezíveis: eles, no geral, são verdadeiros.

Ou vai me dizer que existe alguma maneira de contar a história da Copa do Mundo de 1982 que não seja dizendo que os italianos, como sempre, não jogaram nada, se defenderam, sofreram um bocado, custaram a marcar gols e... acabaram crescendo e ganhando? Parece preconceito, piada de carcamano, mas vai-se fazer o quê? A Copa do Mundo tem esse poder de escrever as histórias com caneta permanente e, em casos como este, ratificar os estereótipos.

Por um lado, a conquista italiana doeu em meio mundo. A Azzurra, afinal, disputou uma primeira fase que, além de decepcionante, foi um tédio: 0 x 0 com a Polônia, seguido de dois 1 x 1; contra Peru e Camarões. Os italianos só se classificaram porque marcaram um gol a mais do que os camaroneses. Seu principal atacante, Paolo Rossi, acabara de passar dois anos suspenso por seu envolvimento num escândalo de manipulação de resultados e, nos quatro primeiros jogos do Mundial, ainda não havia marcado um gol sequer. Todo mundo parecia ocupado demais se encantando com o Brasil de Falcão, Sócrates e Zico ou com a França de Giresse, Tigana e Platini para se importar com os italianos.

A Copa do Mundo realizada na Espanha ficou famosa como uma das mais bem jogadas de todos os tempos em grande parte graças a equipes como o Brasil e a França. O fatídico Brasil 2 x 3 Itália e a semifinal França 3 x 3 Alemanha, que os alemães venceram nos pênaltis, vão entrar para a história como duas das maiores partidas dos Mundiais – e em grande parte justamente porque os times supostamente mais talentosos perderam.

É impossível discutir, porém, com alguns fatos. Em três jogos – os três decisivos, coincidência ou não -, Paolo Rossi marcou meia-dúzia de gols e acabou como artilheiro da Copa. A Itália, goste-se ou não, só saiu campeã porque, uma vez tendo sobrevivido à sua própria inépcia inicial, na hora que importava simplesmente derrotou, um atrás do outro, Argentina, Alemanha e Brasil: os campeões de cada um dos três Mundiais anteriores. Pode não ter sido um título encantador ou divertidíssimo, mas que ninguém queira dizer que não foi legítimo.

Curiosidades
- Mais que Pelé

Norman Whiteside, da Irlanda do Norte, é um dos poucos sujeitos do mundo que pode dizer que destronou um recorde de Pelé: ao entrar em campo contra a Iugoslávia, ele se tornou o jogador mais jovem da história das Copas do Mundo, com 17 anos e 41 dias.

- Começa aos 40
Curiosamente, a mesma Copa também trouxe para o campo o campeão mundial mais velho da história: o goleiraço Dino Zoff, que não apenas foi um dos destaques da Itália como levantou a taça por ser o capitão.

- Coração de mãe
A edição de 1982 foi a primeira a contar não com 16, mas 24 equipes. A Copa, por isso, ganhou um formato novo – que acabaria sendo usado pela única vez: uma primeira fase com seis grupos de quatro equipes, seguida de uma nova etapa de grupos (quatro chaves de três times), cujos vencedores se classificaram para as semifinais.

- Carne fresca
Enquanto a principal ausência foi a da Holanda, que caiu nas Eliminatórias diante de Bélgica e França, o Mundial teve seis países estreantes: Argélia, Camarões, El Salvador, Honduras, Kuwait e Nova Zelândia. Alguns, como camaroneses e argelinos, fizeram um bom papel, mas El Salvador só conseguiu entrar para a história por se tornar o primeiro país a sofrer dez gols num jogo de Copa: na derrota por 10 x 1 para a Hungria.

- Chucrute e marmelada
Os argelinos, aliás, estrearam com uma impressionante vitória sobre a Alemanha Ocidental por 2 x 1 e também venceram o Chile por 3 x 2, mas acabaram eliminados na primeira fase graças a um dos episódios mais vergonhosos das Copas, quando os alemães marcaram 1 x 0 na Áustria aos dez minutos de jogo e, a partir de então, o que se viu foram as duas equipes (que falam o mesmo idioma) tocando a bola de um lado para o outro, sem qualquer esforço para marcar. O resultado, pelo saldo de gols, classificava alemães e austríacos à segunda fase. A torcida de Gijón passou a partida toda vaiando a marmelada e gritando “Fuera! Fuera!”. Um torcedor alemão queimou a bandeira do país, de tanta vergonha, mas não houve maneira. A partir daquele episódio, a FIFA determinaria que a última rodada de cada grupo seria disputada com partidas simultâneas, mesmo que para isso as equipes devessem mudar de sede.

- Bem feito
Ninguém mandou o estádio de Sarriá entrar no caminho de uma Seleção que jogava tão bonito: o castigo do destino veio impiedoso. O Espanyol, segunda equipe de Barcelona, que era o proprietário do estádio, se afundou em dívidas durante a década de 1990 e precisou vender o terreno para um consórcio de empreiteiras. Em agosto de 1997, o estádio foi demolido e, em seu lugar, construiu-se um conjunto habitacional. Durante 12 anos, o Espanyol mandou seus jogos no Estádio Olímpico de Montjuïc, sede dos Jogos Olímpicos de 1992, até que em 2009 inaugurou sua nova casa própria, o Cornellà-El Prat.

- A regra é clara
Foi em 1982 que, pela primeira vez, um juiz de fora da Europa apitou a final da Copa do Mundo: com seu timaço eliminado da disputa, o Brasil pelo menos se contentou com ter um representante na decisão entre Itália e Alemanha Ocidental, o hoje comentarista de arbitragem Arnaldo Cézar Coelho.

- Um bonde chamado Schumacher
A semifinal entre França e Alemanha Ocidental se tornou um dos jogos mais famosos de todos os tempos, antes de tudo, pelo placar: depois do empate em 1 x 1 no tempo normal, nos primeiros oito minutos da prorrogação os franceses marcaram 3 x 1 e deram a impressão de que haviam decidido a passagem à primeira final de sua história. Mas, então, os alemães marcaram duas vezes, levaram a partida para os pênaltis e decretaram luto na França. Só que a derrota acabou sendo ainda mais doída por causa da sensação de impunidade entre os franceses: é que no final do tempo regulamentar o goleirão Schumacher acertou uma das entradas mais trogloditas que já se viu, quando trombou com o francês Battiston depois de esse já ter tentado acertar o gol. O árbitro holandês Charles Corver sequer marcou falta, e Battiston saiu de campo com três dentes a menos, vértebras fraturadas e chegou a entrar em estado de coma.

E o Brasil?
Em 1958 o Brasil perdeu seu complexo de vira-latas e assumiu sua capacidade de ser tão bom de bola como qualquer outro. Em 1970, viu o encontro mágico de suas duas maiores gerações confirmar que éramos os melhores do mundo. E em 1982 descobrimos que jogar mais bola que os demais pode não ser o bastante.
Para sempre os brasileiros ganharam um paradigma de equipe que jogava muito, mas que não foi campeã (“que é o que importa”, completariam uns tantos). É certo que muita gente, no mundo inteiro, lembra daquela Seleção muito mais – ou com muito mais carinho – do que se lembra da Itália de 82 ou, para ficar no exemplo mais clássico, do Brasil de 1994; campeão, mas nada encantador.

A “Tragédia do Sarriá”, da maneira como aconteceu, ou seja, com uma derrota para a pragmática Itália, num jogaço de cinco gols, só ajudou a manter intacto o mito daquele time e, em boa medida, do seu técnico Telê Santana – cuja imagem também estaria para sempre associada, não sem certa dose de exagero ou simplismo, à ideia de que o mais importante é jogar bonito.

Porque isso, jogar bonito, não há dúvida de que o Brasil fez: venceu uma forte União Soviética com dois belos gols, goleou Escócia e Nova Zelândia criando uma batelada de chances e, principalmente, colocou na roda a Argentina de Fillol, Passarella, Kempes e de um jovem Maradona. Bastava empatar com os italianos, que até então tinham passado longe de impressionar. Foi então que Paolo Rossi decidiu que não ia passar em branco na história do futebol e que aquela Seleção tomou um dos dois caminhos possíveis para se tornar um mito: ou continuava jogando daquele jeito mágico até sair campeã, ou acabava eliminada de forma dramática e aparentemente injusta.

A Campanha do Brasil
Primeira fase

14/06/1982 BRASIL 2 X 1 URSS (BRA: Sócrates 30"/2º, Éder 43"/2º; URS: Andrej Bal 34"/1º) - Sevilha
18/06/1982 BRASIL 4 X 1 Escócia (BRA: Zico 33"/1º, Oscar 3"/2º, Éder 18"/2º,
Falcão 42"/2º; ESC: David Narey 18"/1º) - Sevilha
23/06/1982 BRASIL 4 X 0 Nova Zelândia (BRA: Zico 28" e 31"/1º, Falcão 19"/2º; NZE: Serginho 25"/2º) - Sevilha

Segunda fase
02/07/1982 BRASIL 3 X 1 Argentina (BRA: Zico 11"/1º, Serginho 21"/2º, Junior 30"/2º; ARG: Ramon Diaz 44"/2º) - Barcelona
05/07/1982 BRASIL 2 X 3 Itália (BRA: Sócrates 12"/1º, Falcão 23"/2º; ITA: Paolo Rossi 5" e 2"/1º, 29"/2º) - Barcelona

A Final
11/07/1982 Itália 3 X 1 Alemanha Ocidental (ITA: Paolo Rossi 12"/2º, Tardelli 24"/2º, Altobelli 36"/2º; ALE: Breitner 38"/2º) - Madri

Itália
Zoff, Bergomi, Cabrini, Collovati, Gentile, Scirea, Oriali, Tardelli, Conti, Graziani (Altobelli) (Causio) e Paolo Rossi.Técnico: Enzo Bearzot
Alemanha Ocidental
Schumacher, Briegel, Breitner, Karl-Heinz Foerster,, Bernd Foerster, Dremmler (Hrubesch), Littbarski, Fischer, Rummenigge (Mueller), Stielike e Kaltz.Técnico: Jupp Derwall

Fonte: IG

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