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segunda-feira, junho 07, 2010

Histórias das Copas: 2006 na Alemanha

Copa cabeça
Na final, um gol de cabeça ajudou a Itália a levar o tetra. Mas a cabeçada a entrar para a história foi outra



Resumo da Copa
Campeão: Itália Vice: França 3º lugar: Alemanha 4º lugar: Portugal
Os artilheiros
Miroslav Klose (ALE) 5 gols
Hernan Crespo (ARG) 3 gols
Ronaldo (BRA) 3 gols
Zinedine Zidane (FRA) 3 gols
David Villa (ESP) 3 gols
Fernando Torres (ESP) 3 gols
Maxi Rodríguez (ARG) 3 gols
Lukas Podolski (ALE) 3 gols
Thierry Henry (FRA) 3 gols
Os melhores da Copa pela FIFA
Zinedine Zidane (FRA)
Fabio Cannavaro (ITA)
Andrea Pirlo (ITA)
O melhor goleiro:
Gianluigi Buffon (ITA)
Sedes
Berlim, Dortmund, Munique, Stuttgart, Colônia, Frankfurt, Gelsenkirchen, Hamburgo, Hanover, Kaiserslautern, Leipzig, Nuremberg
Países participantes (32)
Alemanha, Angola, Argentina, Austrália, BRASIL, Costa Rica, Costa do Marfim, Croácia, República Checa, Equador, Inglaterra, França, Gana, Irã, Itália, Japão, Coréia do Sul, México, Holanda, Paraguai, Polônia, Portugal, Arábia Saudita, Sérvia e Montenegro, Espanha, Suécia, Suíça, Togo, Trinidad e Tobago, Tunísia, Ucrânia e Estados Unidos
Público total: 3.359.439 Jogos: 64 Gols: 147 Média de gols: 2,3

A Copa
Não é para qualquer um ter uma Copa do Mundo inteira - um mês de futebol, dinheiro e sentimentos - para sempre relacionada com o seu nome. Chile 1962 é a Copa do Garrincha; México 1986, do Maradona. E o Mundial da Alemanha em 2006 poderia, sim, ter sido simplesmente a Copa do Zidane – que também está consideravelmente distante da categoria “qualquer um”.

As atuações do francês nas oitavas-de-final contra a Espanha e nas quartas contra o Brasil, sozinhas, já teriam sido bons argumentos. O gol de pênalti taquicardíaco contra a Itália, na final, também teria colaborado. Só que Zinedine Zidane resolveu fazer mais do que ter um Mundial associado a seu nome e seu desempenho. Em vez disso, levou o conceito além e reduziu toda menção imediata àquela Copa a um só gesto, que durou um segundinho e que nem mesmo foi um gol. Espere o tempo passar e você verá: a Alemanha 2006 foi “a Copa da cabeçada do Zidane no Materazzi”.

Não a Copa em que a Itália, defensiva, desacreditada e desmoralizada pelo escândalo dos resultados arranjados na Serie A, foi tetracampeã; nem a Copa em que a Alemanha, além de pais organizado e de estádios impecáveis, de repente se transformou em seleção ofensiva e em povo caloroso. Aquela foi a Copa da cabeçada, porque nunca na história do futebol se falou tanto sobre um só momento de um jogo – e um instante que sequer foi tão decisivo assim - como sobre aquele instantezinho aos 5 do minutos do 2º tempo da prorrogação.

A cabeçada de Zidane serviu de motivo para se discutir de tudo: a falibilidade dos heróis; a humanização do ídolo; a xenofobia; a redenção dos muçulmanos; o valor da família; a inocência de alguém que escutou xingamentos a vida inteira; a melhor hora para se aposentar; a pior hora para resolver mandar tudo às favas; o impacto psicológico de ver alguém perdendo o controle; o simbolismo da incompreensão ante um mundo injusto; a balbúrdia da Europa diante do seu multiculturalismo recente... Por tudo isso, A Cabeçada foi, no mínimo, o gesto mais significativo do esporte na primeira década do século 21. Como é que não ia ser o resumo daquela Copa?

Curiosidades
- Catenaccio século 21

Dizer que a Itália se destacou pela defesa não é exatamente novidade, mas no caso da Alemanha 2006 a situação foi especial: o time levou apenas dois gols em sete jogos – um contra e um de pênalti – e teve em Gianluigi Buffon o melhor goleiro e Fabio Cannavaro o segundo melhor jogador da Copa (atrás de Zidane, o melhor com Cabeçada e tudo). O zagueiro ainda foi votado ao final do ano como melhor do mundo da FIFA. Foi nessa Copa também que a Itália se livrou de um fantasma gigantesco: após três eliminações seguidas em disputas de pênaltis (incluída aí a final de 1994 com o Brasil), a Azzurra enfim comemorou da marca da cal.

- Sangue quente
A Alemanha, por sua vez, deixou de lado o histórico pragmatismo: primeiro porque a torcida mostrou orgulho e hasteou bandeiras de modo como nunca se havia visto desde a queda do nazismo – quando o conceito de patriotismo se tornou algo compreensivelmente nebuloso, para não dizer traumático. Mas também dentro de campo o time de Jürgen Klinsmann, que terminou em terceiro lugar, deu motivo para comemorações: foi a equipe que mais marcou gols no torneio, 14, e teve o artilheiro da competição, Miroslav Klose, e a revelação, Lukas Podolski.

- Títulos; os outros
Com desgosto ou não, a Copa foi histórica para o Brasil. Especialmente o jogo das oitavas-de-final contra Gana. Naquele dia, a seleção estabeleceu o recorde que dura até hoje de vitórias consecutivas em jogos de Copa do Mundo: 11. Os 3 a 0 sobre os africanos se somaram aos três triunfos na primeira fase e aos sete da Copa de 2002. O primeiro gol desse jogo foi ainda mais notório: com ele, Ronaldo se tornou o maior artilheiro da história das Copas, com 15 gols – um a mais do que o alemão Gerd Müller.

- Nem de ouro, nem prata
A Copa do Mundo da Alemanha teve tanta coisa boa que ninguém nem reparou muito, mas a media de gols, de 2,3 por partida, foi a segunda mais baixa da história, atrás apenas da Itália 1990. Foi em 2006, também, que a ideia do “gol de ouro”, brevemente adotada, caiu por terra: desde a Olimpíada de 2004 já se havia decidido que a prorrogação ia até o fim, não importa o que acontecesse.

- Dress code
A cervejaria Bavaria inventou uma promoção na Holanda em que suas caixas de latinhas vinham acompanhadas dos “leeuwenhosen” - sobretudos cor de laranja, com um rabo de leão, feitos para que os torcedores Oranje fossem aos estádios da Copa caracterizados (e devidamente portando o logotipo da Bavaria). Acontece que a Budweiser é uma das patrocinadoras da Copa do Mundo, e o regulamento de marketing da FIFA para defender seus parceiros do chamado “marketing de emboscada” é rigorosíssimo. Resultado: na partida entre Holanda e Cosa do Marfim, os fiscais do estádio de Stuttgart obrigaram os holandeses a tirarem seus “leeuwenhosen”. E estavam tão preparados para o constrangimento que já levaram consigo shorts cor de laranja para dar aos torcedores mais pudicos.

- Amarelo, amarelão, amarelíssimo
A arbitragem esteve em voga naquela Copa. Não só pelo numero recorde de cartões amarelos (345) e vermelhos (28), mas por alguns casos específicos como o da Cabeçada – que quem viu foi o quarto árbitro; e até hoje não se sabe se com ajuda da televisão ou não – e principalmente o do britânico Graham Poll, que na partida entre Austrália e Croácia realizou uma proeza impensável até nas peladas de fim de ano da empresa: deu TRÊS cartões amarelos para o mesmo jogador, o croata Simunic, sem expulsá-lo de campo.

- Mãos ao alto!
A maior contribuição para a estatística recorde de cartões foi, sem dúvida, a arbitragem do russo Valentin Ivanov naquela que ficou famosa como “A Batalha de Nuremberg”. Na partida de oitavas-de-final em que Portugal bateu a Holanda por 1 a 0, o juiz estabeleceu um novo recorde para qualquer torneio da FIFA: distribuiu 16 cartões amarelos e quatro vermelhos – para os portugueses Costinha e Deco e os holandeses Boulahrouz e Van Bronckhorst.

- Dedo-duro
Outro jogo famoso envolvendo Portugal e a arbitragem foi o de quartas-de-final contra a Inglaterra. É que Wayne Rooney foi expulso no segundo tempo por pisar no português Ricardo Carvalho, e no dia seguinte à eliminação do English Team nos pênaltis, a mídia inglesa cismou que Cristiano Ronaldo – companheiro de Rooney no Manchester United – teria exagerado no escândalo e na pressão sobre o árbitro argentino Horacio Elizondo para que o inglesinho recebesse o vermelho. As câmeras em seguida teriam captado Ronaldo dando uma piscadinha marota de aprovação para o banco de reservas depois de supostamente ter cavado a expulsão do colega de clube. Pronto. Numa cultura futebolística como a dos ingleses, obcecados pela ideia de punir os trapaceiros, foi pecado mortal: ao voltar a Manchester, Cristiano Ronaldo recebeu uma enxurrada de criticas tão grande que foi então que, pela primeira vez, manifestou seu desejo de deixar os Diabos Vermelhos e se transferir para o Real Madrid. No fim, com os gols e as atuações de gala do português, a birra passou. Mas a imagem de Ronaldo nunca mais foi a mesma na Terra da Rainha.

E o Brasil?
Quase toda derrota do Brasil em Copa do Mundo, não importa em que fase e sob quais circunstâncias, vem acompanhada de, no mínimo, um culpado execrável que nos permite evitar a assunção de que o outro time foi melhor. Isso quando não vem envolta mesmo em teoria da conspiração: jogo vendido, orgia na véspera, corpo mole. Cada um tem sempre uma razão que vai além do “pois é, perdemos”.

Em 2006 foi a mesma coisa: todo mundo tem uma explicação para o porquê de a Seleção Brasileira - a do quadrado mágico de Kaká, Ronaldinho, Ronaldo e Adriano – ter sido derrotada nas quartas-de-final. A diferença é que, nesse caso, a maioria das explicações tem, no mínimo, bons indícios de serem verdadeiras.

Uma coisa é fato e está no cerne da contratação de Dunga para substituir Carlos Alberto Parreira depois da derrota nas quartas-de-final para a França:, O próprio presidente da CBF, Ricardo Teixeira, assume: a preparação do Brasil para aquele Mundial foi um circo. De patrocinadores, torcedores, jornalistas, câmeras de televisão enfiadas em todo canto, privacidade nenhuma e concentração menos ainda. Entre as cidades de Königstein, na Alemanha, e Weggis, na Suíça, a Seleção não fez nada do que deveria, que era se preparar e focar para o torneio do qual era favorita – talvez mais favorita do que qualquer outra equipe que já disputou uma Copa.

Para além desse fato confirmado entram as especulações: Parreira teria perdido o comando da equipe; os supostos líderes do grupo – o núcleo veterano de Cafu, Roberto Carlos e Ronaldo – não vinham ratificando a liderança em forma de grandes atuações e, assim, teriam perdido moral; Ronaldinho teria sido sacrificado para se limitar a ser meio-campista e, por isso, rendido tão pouco; o time teria entrado de salto alto, certo de que era, disparado, o melhor do mundo; os hotéis em que a Seleção se hospedavam teriam se tornado Sodomas e Gomorras toda noite. Tudo assim, nesse tempo imperfeito, por via das dúvidas.

As únicas certezas são o timaço que tínhamos, a raiva que os brasileiros sentiram, a fama de mercenários e preguiçosos que ganharam os astros daquele time durante um bom tempo e a ajeitada de meias do Roberto Carlos. O resto vamos especular para sempre.

A Campanha do Brasil
Primeira fase

13/06/2002 BRASIL 1 X 0 Croácia (BRA: Kaká 44"/1°) - Berlim
18/06/2002 BRASIL 2 X 0 Austrália (BRA: Adriano 4"/2°, Fred 45"/2°) - Munique
22/06/2002 BRASIL 4 X 1 Japão (BRA: Ronaldo 46"/1° e 36"/2°, Juninho Pernambucano 8"/2°, Gilberto 14"/2°; JAP: Tamada 34"/1°) - Dortmund

Oitavas-de-final
27/06/2002 BRASIL 3 X 0 Gana (BRA: Ronaldo 5"/1°, Adriano 46"/1°, Zé Roberto 39"/2°) - Dortmund

Quartas-de-final
01/07/2002 BRASIL Brasil 0 X 1 França (FRA: Thierry Henry 12"/2°) - Frankfurt

A Final
09/07/2002 Itália (5) 1 x 1 (3) França (ITA: Materazzi 19"/1°; FRA: Zidane 7"/1°) - Berlim

Itália
Buffon, Zambrotta, Cannavaro, Materazzi e Grosso; Gattuso, Perrotta (De Rossi), Pirlo e Camoranesi (Del Piero); Toni e Totti (Iaquinta). Técnico: Marcello Lippi
França
Barthez, Sagnol, Thuram, Gallas e Abidal; Vieira (Alou Diarra), Makelele, Zidane e Malouda; Henry (Wiltord) e Ribéry (Trezeguet). Técnico: Raymond Domenech

Fonte: IG

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